Sessão Solene Insurreição de Queimado A Sessão Solene, que celebrou 170 anos da Insurreição do Queimado na Serra foi realizada na noite desta quinta-feira (21), por seus Proponente os Vereadores Geraldinho PC e Aécio Leite. Foi realizada na Quinta feira, dia 21 de Março de 2019, a Sessão Solene em homenagem aos 170 anos da Revolta dos Negros Escravos do Queimado. Várias Personalidades Culturais foram homenageadas, entre as quais Clério José Borges de Sant Anna, Presidente da ACLAPTCTC, Academia de Letras e Artes de Poetas Trovadores e Vice Presidente da ALEAS, Academia de Letras e Artes da Serra (Serra, ES, Brasil). A REVOLTA DOS NEGROS EM BUSCA DA LIBERDADE Texto do Livro "HISTÓRIA DA SERRA", de Clério José Borges. Permitida a reprodução do conteúdo. Agradecemos a citação da fonte Queimado é um Distrito da Serra, Espírito Santo, Brasil. Possui uma área de 77 quilômetros quadrados e fica a sudoeste do Município. Ao ser criada a Freguesia pertencia a Vitória, passando para Serra somente em 31 de Dezembro de 1943. Possuiu sua primeira Escola Pública em ato oficial de 12 de abril de 1847, cuja inauguração foi a 24 de abril do mesmo ano. Teve uma Escola Feminina inaugurada em 4 de agosto de 1873. Pela Resolução N.º 4, de 26 de dezembro de 1889, passou a prerrogativa de Vila, mas só foi elevada em 11 de novembro de 1938. O local tem esse nome por ser um lugar muito quente e onde havia muitas queimadas. Com o surgimento do Porto do Una (preto) no rio Santa Maria, o local passou a ser denominado de Queimado, com referência ao Porto do Una (o Porto do Una - preto - do Queimado), no lugar onde havia várias queimadas. A antiga freguesia de São José do Queimado, que pertencia a Comarca de Vitória, no dia 19 de março de 1849, foi palco de uma Insurreição de Negros Escravos, a Revolta do Queimado. Uma negociação pela liberdade, que teria sido firmada oralmente, envolvendo um Frei Italiano, Gregório José Maria de Bene e os Negros Escravos. Um acordo pela libertação em troca de préstimos na construção de uma Igreja Católica e o impasse causado pelo padre, que não teria cumprido suas promessas, acabou resultando em ação violenta por parte dos Escravos e uma cruel e sanguinária repressão por parte das forças legalistas, culminando na prisão, em fuga da cadeia, em açoites de 200 a 1.000 chibatadas em vários negros e enforcamento de dois dos líderes da Revolta, os negros heróis de uma luta libertária. Nos dias atuais sabe-se historicamente que a Insurreição do Queimado, na verdade foi uma Revolta. Um audacioso plano de libertação, arquitetado por Elisiário, Chico Prego, João Pequeno e João da viúva Monteiro, os quais não se conformando com a miserável condição de escravo e os sofrimentos físicos e humilhações sofridas elaboram um plano de libertação para o dia da inauguração da Igreja de São José, com o objetivo de obrigar o padre Frei Gregório a conceder-lhes a alforria, ou seja, a liberdade. A Revolta do Queimado foi a maior insurreição negra ocorrido no Estado do Espírito Santo e um marco na história da Negritude Capixaba. Referência da resistência negra nos tempos da escravidão. CRIAÇÃO DA FREGUESIA A Freguesia de São José do Queimado foi criada pela resolução provincial nº 9, de 27 de julho de 1846, anexado ao Município de Vitória, no Espírito Santo. Segundo o historiador José Francisco de Assis, "a localidade de São José do Queimado se formou como todas as outras. A beira do rio Santa Maria foi aberta a primeira lareira. Rolara por terra a braúna (árvore nativa) para esteio (construção da peça de madeira usada para segurar ou escorar) do casebre, retirado o cipó para amarrar as ripas feitas de palmito, e as folhas deste para a cobertura. Vieram depois outras habitações e surgiram as grandes fazendas, vindo o arraial, por fim o distrito, a vila." (ASSIS, 1948, p.48). Algumas publicações informam que a data da criação da Freguesia seria 27 de Agosto. A data de 27 de Julho de 1846 consta de um ofício do Presidente da Província, Antônio Joaquim de Siqueira ao Bispo do Rio de Janeiro, datado de 8 de março de 1848, onde consta, "(...) Julgo, porém do meu dever informar a V. Exa., que por Lei Provincial, de 27 de julho de 1846, decretada antes da minha administração foi elevado o sobredito lugar a Freguesia, como V. Exa. verá cópia junta, e que nele está sendo construído por aquele Missionário, à custa dos Fiéis, e por meio de suas exortações, um majestoso templo, de pedra e cal, que tem de ser dedicado ao patriarca São José, exercitando a admiração de todos, por sua grandeza, e por se estar fazendo, pudesse dizer, no centro da pobreza. Já vi essa Igreja, e creio que concluída será uma das mais importantes da Província." (Fonte: Secretaria de Governo, livro 132 In: ROSA, Afonso Cláudio de Alvarenga. 1979, p. 139 - 140). Queimado em 1849 possuía um total de 5000 habitantes e estava situado à margem do Rio Santa Maria da Vitória, onde havia um porto chamado Porto do Una, (Negro), um importante entreposto (depósito) comercial, onde era embarcada, em canoas que comportavam mais de cem sacas de café, a produção da região da Serra e onde eram desembarcados os produtos importados que atendiam às necessidades locais. Trafegavam canoas carregadas de café, farinha de mandioca, cana-de-açúcar, milho, feijão. O rio servia como via para o transporte em geral, inclusive para a integração de Vitória com a Serra e com o Norte do Espírito Santo. Na época, século XIX, a Freguesia do Queimado limitava-se com a Freguesia da Serra pelo rio Tangui e Porto do Una, seguindo a margem do brejo até a ponte do mesmo nome e, em linha reta, até a estrada de São João, na ladeira das pedras, compreendendo Itapocu e todo o Caioba. Parecia que o destino reservava certa importância ao povoado do Queimado, não obstante a pobreza do lugar. Mas um lento e irremediável processo de decadência econômica e despovoamento, iniciado já na segunda metade do século XIX, frustrou esta possibilidade. Hoje, no local onde se localizava a vila, os únicos testemunhos visíveis do engenho humano são as ruínas da Igreja de São José. A Freguesia do Queimado ao ser criada pertencia a Vitória. Somente pelo Decreto Lei Estadual nº 15.177, de 31 de Dezembro de 1943, Queimado foi desmembrado do município de Vitória sendo anexado ao município de Serra. Queimado hoje é um Distrito da Serra, um dos Municípios que compõem a área periférica da Grande Vitória, no Estado do Espírito Santo. A Aldeia de Nossa Senhora da Conceição da Serra tinha sido elevada à Freguesia por Carta Régia em 1724, mas a Freguesia somente foi instalada na Serra sede, em 1769, depois de construída a igreja nova, matriz que tinha por filial a ermida de São José, localizada no Queimado. O termo ermida significa uma pequena igreja ou capela, normalmente localizada fora das povoações ou em lugares ermos. O NEGRO E SUA LUTA CONTRA A OPRESSÃO No ano de 1849, no período Imperial do Brasil, o escravo negro, no Espírito Santo era usado na produção agrícola. Os grandes fazendeiros usavam a mão de obra escrava para trabalhar, principalmente nas lavouras de cana-de-açúcar, café e milho e viviam como a população escrava brasileira, humilhados e submetidos a castigos cruéis e desumanos, ansiando por liberdade, em condições onde fugas, aquilombamentos e revoltas eram constantes. No dia 19 de março de 1849 aconteceu um movimento de libertação dos escravos, na Vila de São José do Queimado, localizada ao norte de Vitória, nas proximidades do rio Santa Maria. O rio Santa Maria da Vitória servia de transporte para homens e mercadorias com destino ao interior do Espírito Santo. Como, na época, a Escravidão existia de acordo com a lei, ou seja, era legal, qualquer movimento contra a Escravidão e pela liberdade do negro era um ato ilegal e assim a atitude dos negros foi denominada de Insurreição do Queimado. Insurreição é o ato de se insurgir, ir contra a lei, sublevar. Principal movimento contra a escravidão ocorrido no Espírito Santo na época do Brasil Imperial, a Insurreição de Queimado é o resultado da construção de um processo político de conquistas. Um fato, que resultou na interpretação de uma promessa que não foi cumprida fez estourar uma grande revolta pela liberdade. Uma promessa de liberdade, feita pelo Frei Italiano Gregório José Maria de Bene. A fonte primária e os principais relatos da história do Queimado são baseados em correspondências da época trocadas por autoridades civis e religiosas e no livro "A Insurreição de Queimado", de Afonso Cláudio de Freitas Rosa, escrito em 1884. Afonso Cláudio era na época um jovem advogado de 25 anos, nascido dez anos após o levante, filho de uma família escravocrata proprietária de uma grande fazenda no distrito de Mangaraí, Santa Leopoldina, distante poucos quilômetros do Queimado e onde se refugiaram muitos dos negros após o fracasso da revolta. O trabalho foi publicado em novembro de 1884 e mantém a versão apresentada pelo advogado de defesa dos acusados, o padre João Clímaco de Alvarenga Rangel, que era proprietário de três importantes líderes do movimento, Carlos, João Pequeno e Elisiário, versão esta que atribuía ao padre Gregório José Maria de Bene toda a culpa da Revolta. Afonso Cláudio para a elaboração do seu trabalho chegou a entrevistar um dos participantes da Revolta, o Escravo Carlos, que escapara dos Capitães do Mato e dos Policiais designados para prender os revoltosos. Afonso Cláudio que viria a ser o primeiro governador do Espírito Santo no período republicano era um devotado abolicionista, inspirado pelos ventos que já então sopravam na época de seus estudos no Recife. Datado de 1949 e apresentado no IV Congresso de História Nacional, o livro de Wilson Lopes de Resende, "A Insurreição de 1849 na província do Espírito Santo" é parte da historiografia referente à insurreição de Queimado. Em sua obra, o autor afirma que a busca da liberdade pelos escravos da região do Queimado, aliada à promessa feita pelo Frei Gregório de Bene, foram os fatores que motivaram e causaram a Insurreição. Em um sentido geral, Wilson Lopes (1949) aborda que a Insurreição foi causada pela situação que na época era vivida pelo negro no cenário nacional e local. Escreve Wilson Lopes de Resende, "era a justiça dos homens, naquela época, contra os negros, e só assim a autoridade sentia-se restituída à amplitude de seu próprio arbitrário. (...) Todos esses escravos, vítimas de leis desumanas, então vigentes, merecem um lugar na História, como heróis desse movimento libertador, e como precursor da abolição da escravatura, no Brasil.” (RESENDE, 1949, p. 16). A PROMESSA DO FREI E A CONSTRUÇÃO DA IGREJA O Missionário Capuchinho Italiano, Gregório José Maria de Bene, encontrava-se no sul da Província do Espírito Santo, na região de Iúna (Paróquia Nossa Senhora Mãe dos Homens). Foi transferido para a Freguesia da Serra, que já existia desde 1769, trabalhando no lugar denominado Sítio Tapera e, onde em 1845, resolveu construir uma Igreja em honra a São José, no Distrito de Queimado, em substituição a uma pequena Capela chamada de ermida São José existente na região. No Queimado o agrupamento humano era maior do que o da Serra sede e havia necessidade de uma Igreja mais ampla, maior do que uma simples ermida (capela pequena). Em carta enviada ao Presidente da Província, Luiz Pedreira Couto de Moraes, datado de 12 de maio de 1847, frei Gregório relata a motivação que o levou a realizar o início das obras de edificação do templo: "No mês de abril de 1845 missionando em um sítio com o nome de Tapera, perto do Queimado, onde ora acha-se o Templo tão admirado, reparei com grande pesar do meu coração que a maior parte dos fiéis até nos últimos períodos da nossa existência mortal, pela grande distância, e péssimos caminhos das Freguesias, não acham aquele conforto, que só a nossa Santa, e beneficente Religião podia subministrar-lhes em momentos tão críticos, e perigosos, resolvi-me, e propus aos que ouviam a Santa Missão, ao projeto de se fundar um templo à sua Divina Majestade, no meio de uma povoação de cinco mil almas que viviam na máxima ignorância, e inação, causa de tantos homicídios, de contínuos roubos, de freqüentes embriaguezes, e de todo os vícios os mais abomináveis." (Fonte: Coleção Accioli, livro 394 In: ROSA, 1979, p. 125). POPULAÇÃO E NEGROS ESCRAVOS NA CONSTRUÇÃO DA IGREJA A pedra fundamental iniciando a construção da Igreja de São José foi colocada no dia 15 de Agosto de 1845, num local estratégico, numa colina a 100 metros de altura do nível do mar. O tamanho da obra, em seu corpo principal era de 90 palmos de comprimento por 42 de largura, com 43 de altura. Frei Gregório relata em Carta ao Presidente da Província, "pelo meu exemplo, atividade, vigilância sobre os obreiros, e fiel e econômica administração, como também pelo adjutório de uma pia Dona, (a viúva Ana Maria), com os seus poucos escravos, e assistência contínua de um pardo, e algum socorro do povo em geral, hoje este Templo, cujo comprimento é de noventa palmos, a largura de 42 e duas polegadas, a altura de 43 palmos, e a Capela-mor de 45 de comprimento, a largura de 27 e altura de 24 já está em um estado admirável, com a Capela coberta, e o resto a cobrir-se; porém já vai se preparando quanto for preciso por este fim." (Fonte: Coleção Accioli, livro 394 In: ROSA, 1979, p. 138). A população local se envolveu na edificação do templo. O terreno foi doação da senhora Ana Maria, viúva do Sr. José dos Santos Machado, e a construção contou com a participação de homens livres e escravos, que trabalhavam nos dias santos, (domingos e feriados). Além do chamamento ao trabalho, frei Gregório fez correr uma lista, na freguesia, para doações em dinheiro, visando à aquisição do material necessário à construção do templo. Como ele mesmo afirma, uns pagavam, outros só a metade, e, ainda, havia aqueles que não contribuíam. A obra contou ainda com a sacola da esmola, com as ofertas das santas missões e com o pagamento que o frei recebia do Governo Imperial. Além disso, Gregório ia de fazenda em fazenda, nos arredores da freguesia, a pedir doações. Frei Gregório, convocou os negros da região para a construção da obra, com a promessa de que posteriormente intercederia junto aos Senhores para que fosse dada a alforria de cada um dos negros que ali trabalhassem, utilizando-se da amizade que desfrutava com a Imperatriz do Brasil, Dona Tereza Cristina, a quem oficiaria os documentos. Vinte negros atenderam ao pedido do Frei e participaram da construção da Igreja. Entre eles, Chico Prego, Elisiário, João da Viúva Monteiro, João o pequeno. A Imperatriz citada pelo Frei Gregório era a Dona Teresa Cristina de Bourbon que era Italiana, do mesmo país do Frei Gregório, a Itália. Tendo nascido em Nápoles no dia 14 de março de 1822 e falecida na cidade de Porto, Portugal, em 28 de dezembro de 1889. Foi uma princesa do reino das Duas Sicílias, do ramo italiano da Casa de Bourbon, e a terceira e última Imperatriz consorte do Brasil, esposa do imperador Dom Pedro II. Foi a mãe de Dona Isabel e Dona Leopoldina. O Frei alimentava nos negros o sonho da liberdade e em seus Sermões criticava o sistema escravista, porque, embora os padres possuíssem escravos, frei Gregório era oriundo da Itália, onde todos eram livres e não havia escravidão. Nos domingos e feriados, dias de folga destinado ao descanso e nas noites de lua cheia, o templo foi construído com pedras divididas por tamanhos, e carregadas por longas distâncias e subidas íngremes; as pedras pequenas, do tamanho de um punho, eram destinadas às crianças, algumas com apenas seis anos de idade. PLANEJAMENTO E AÇÕES DOS NEGROS ESCRAVOS Elisiário Rangel, escravo de Faustino Antônio Rangel. Foi à cabeça pensante. Era um escravo inteligente, já que o seu proprietário lhe proporcionara a oportunidade de ler e aprender o ofício de Carpinteiro. Elisiário elabora um plano. Pede calma e sigilo pois a reação do Governo e dos brancos seria violenta. Marca a data de 19 de março para o início da Revolta. Estabelece as ações de cada um dos líderes do movimento. Chico Prego, negro forte, fica encarregado das Operações Militares, recrutando e animando os escravos da Serra e das regiões vizinhas. João Monteiro, escravo de Maria da Penha de Jesus, a Viúva Monteiro fica com a missão de conseguir armas, munições e adesão de parentes, vizinhos e amigos sinceros na região do Queimado. João, o pequeno fica encarregado de conseguir armas e munições e animar os escravos nas fazendas de Mangaraí e outras da região do rio Santa Maria da Vitória. Carlos, escravo do padre João Clímaco, amigo de Elisiário, dividia com João Pequeno a tarefa de convocar os escravos nas fazendas da região do Mangaraí, Distrito de Santa Leopoldina. Dotado do dom da palavra, Elisiário era um escravo doméstico e se movimentava com liberdade pela Freguesia e por seus arredores. Portanto, estava sempre muito próximo dos senhores. Ia com freqüência à casa do padre João Clímaco, que era irmão de seu senhor. Além disso, era amigo do escravo Carlos. Todos os preparativos foram feitos para a revolta começar caso não fosse anunciada a liberdade dos escravos. Nas vésperas da inauguração da Igreja, já se encontravam na região do Queimado mais de 200 escravos. Segundo Afonso Cláudio em seu livro "Insurreição de Queimado", reeditado pela Prefeitura Municipal de Vitória: "Em várias fazendas pequenas reuniões celebraram-se às ocultas, e os cabeças destarte arrebanhavam prosélitos com paciente persistência. Mensageiros cruzavam-se em várias direções para o Norte da Província; do sul veio um contingente de 20 escravos para engrossar a coluna insurrecionaria. Da Serra, de Itapoca, de Viana, em suma de todos os centros onde transpiravam as deliberações tomadas em conciliábulos, afluíam adeptos à causa". Ainda segundo Afonso Cláudio, "sob a aparência de desmedida obediência, os escravos odiavam os senhores e faziam sacrifícios de toda a sorte para adquirir armas". Afonso Cláudio escreve a monografia sobre o levante de escravos, que havia ocorrido dez anos antes do seu nascimento, sendo a obra lançada em 1884, quando o autor contava, então, com vinte e cinco anos de idade. A FESTA DE SÃO JOSÉ A construção da Igreja levou cerca de três anos e meio, com o esforço e sacrifício de todos. Marcou-se então, a inauguração para o dia do padroeiro, embora não estivesse completamente pronta, os negros consideravam a Igreja pronta, já que faltavam apenas alguns pequenos detalhes na construção da obra. Para a Igreja e festa de São José, se dirigiram escravos de Jacaraípe, Una, Tramerim, Pedra da Cruz, chamados pelos líderes do Movimento de Liberdade. Como a promessa não foi cumprida, no dia de São José, 19 de março de 1849, às 15 horas, no momento em que celebrava a missa inaugural da Igreja Matriz, Frei Gregório foi interrompido pelos negros que exigiam a Alforria, a liberdade, que o padre havia prometido em troca da ajuda na construção da Igreja. O sacristão da Igreja do Queimado no dia da Insurreição era José Pinto Lima. INVASÃO DAS FAZENDAS E REPRESSÃO CRUEL Depois da invasão da Igreja, em bandos os Revoltosos dirigiram-se às fazendas próximas juntando mais escravos e obrigando seus proprietários a conceder a libertação, aumento o número de revoltosos para um total de 300 negros. O medo toma conta da Freguesia. O exército dos Revoltosos sai da igreja, dando “vivas à liberdade” e desfilando diante da população que, temendo à agitação, fecha as portas e as janelas de suas casas. O fazendeiro Luiz Vicente é obrigado a assinar uma declaração de Liberdade para os seus Escravos. No Engenho Fundão, de propriedade do Sr. Paulo Coutinho Mascarenhas é obrigado a libertar seus escravos e passar-lhes Cartas de Alforria, bem como entregar as munições e as armas que possuía. Um destacamento com 20 policiais da Companhia fixa de Caçadores de Vitória desloca-se para a região do Queimado, estando comandando os Policiais, denominados "Forças Legalistas", o Alferes, José Cesário Varella de França. Com a presença dos Policiais na região, um grupo de cidadãos surge com um grito que antevê o fim da revolta: Viva o bacalhau! Bacalhau era o nome dado ao chicote para castigar os Escravos. O movimento é contido com extrema violência pela polícia da Província e os negros são brutalmente assassinados. Já na madrugada do dia 20 de março inicia-se a repressão, com o Destacamento comandado pelo Chefe de Polícia José Inácio Acioli de Vasconcelos matando e prendendo a todos que encontrava no caminho, inclusive uma escrava, mulher de um dos revoltosos. MATANÇA DESENFREADA Comprova-se que houve o confronto e feridos dos dois lados. Uma das vítimas da Insurreição foi Francisco Roriz, ferido pelos negros com 17 caroços de chumbo, nas matas de Itaiobaia. Outra vítima foi o próprio comandante das Forças Policiais, Alferes Varella. Tal fato irrita os Policiais e batedores do mato, que passam a matar todos os negros que encontravam no caminho, tomando-os como revoltosos. Escravos encontrados na ladeira que desce para Aroaba, região perto do Queimado, foram todos mortos. Ao final o Chefe de Polícia Accioli informa, no dia 23 de março de 1849, que conseguiu encontrar 11 escravos, entre os quais um dos líderes da Insurreição, Elisiário, escravo do fazendeiro Faustino Antônio de Alvarenga. A Insurreição que havia começado no dia 19, termina com a prisão de Elisiário, cinco dias depois. Todavia havia ainda negros foragidos espalhados pela região, tendo a Polícia continuado as buscas por mais alguns dias. Preocupado, o Presidente da Província, Siqueira envia ao Queimado mais Policiais sob o Comando de Manoel Vieira da Vitória, ordenando ao Capitão Antônio das Neves Teixeira Pinto, Delegado da Vila da Serra, que passasse a perseguir os fugitivos. Documentos esclarecem ainda que os habitantes do Queimado, Mangaraí e Serra auxiliaram as autoridades na captura dos negros. Pela crueldade com que tratou os escravos negros, arrastando-os pelo chão por léguas e léguas, o Delegado da Vila da Serra, Capitão Antônio das Neves acabou recebendo elogios pela maneira como se conduzira. O Presidente da Província do Espírito Santo, Antônio Joaquim de Siqueira, em 20 de março de 1849, encaminha uma Carta à Corte no Rio de Janeiro narrando os fatos e informando que "o susto e o terror se acham apoderados dos habitantes desta Capital e lugares circunvizinhos." Diante de tal argumentação de "susto e terror", o Governo Imperial, atendendo a solicitação feita, acabou mandando o vapor "Paquete do Sul" que, no dia 30 de março aportou em Vitória trazendo um reforço de 31 soldados comandados por um Oficial. Dias depois regressava o vapor à Corte, levando a notícia da vitória dos legalistas. O escritor José Teixeira Leite informa que a caça aos negros foi "cruel e selvagem" e levada a efeito "por impiedosos batedores do mato." Esta informação consta da página 332, do livro "História do Estado do Espírito Santo - edição de 1975." CORREIO DA VITÓRIA E OS TREZENTOS ESCRAVOS O Jornal "Correio da Vitória", de 21 de março de 1849, publica a seguinte notícia: "No dia 19 do corrente um grande grupo de escravos invadiu a Igreja da Povoação do Queimado na ocasião em que se celebrava o santo sacrifício da Missa, e em gritos proclamava a sua liberdade, e alforria, e seguindo para diversas Fazendas e aliciando os Escravos delas e, em outras, obrigando os seus donos a doarem a liberdade a seus Escravos, engrossou em número de 300." O Jornal "Correio da Vitória", transcrevendo documentos oficiais, historicamente confirma a participação de 300 Escravos na Revolta do Queimado. Alguns historiadores citam um total de 200, mas o correto é mesmo 300. Ofício do Presidente da Província do Espírito Santo, Antônio Joaquim de Siqueira, com data de 20 de março de 1849, encaminhado à Corte no Rio de Janeiro, confirma tal informação: "Ontem pelas três horas da tarde, soube que um grupo armado de trinta e tantos Escravos perpetrara o crime de Insurreição no Distrito do Queimado, três léguas distantes desta Capital (Vitória), invadindo a Matriz na ocasião em que se celebrava a missa conventual, e levantando os gritos de "Viva a Liberdade" e "Queremos Alforria." Este grupo seguiu depois a direção do Engenho Fundão, de Paulo Coutinho Mascarenhas, e obrigou-o a entregar-lhe os seus Escravos e passar-lhes Carta de Liberdade, as armas e munições que possuía. O mesmo fizeram em outros Engenhos de maneira que conseguiu elevar o seu número a cerca de Trezentos. (...) Escusado é narrar a Vossa Excelência o susto e o terror de que se acham apoderados os habitantes desta Capital e lugares circunvizinhos." Trezentos Escravos se rebelaram na mais sangrenta revolta do Estado do Espírito Santo, onde cerca de 20 negros foram mortos ou feridos, perseguidos como animais por Capitães do Mato, ajudados por voluntários da região. A busca foi cruel e selvagem e feita por impiedosos "batedores do mato" (como eram chamados os Capitães do Mato). A Insurreição do Queimado, não foi à única revolta escrava acontecida no Município da Serra. No ano de 1842, já havia acontecido uma pequena revolta de escravos. O Escritor Francisco Eugênio de Assis escreve num artigo publicado na “Revista Capichaba”, que em 1842 houve uma pequena revolta de escravos, sem maiores conseqüências na Serra. SÃO MATEUS DA SERRA E A VERSÃO DE WILSON LOPES RESENDE Relatos históricos dão conta de que ao Queimado, para participarem da Insurreição de 1849 ocorreram Escravos da Serra, Itapoca, Viana, São Mateus e demais redondezas. A localidade de São Mateus citada nos documentos sobre a Revolta do Queimado, não é a atual cidade de São Mateus do Norte do Espírito Santo e sim, uma Vila localizada na época, perto de Nova Almeida, que possuía trezentas casas. Tal Vila é citada pelo ex Prefeito Naly da Encarnação Miranda, na página 42 do Livro, "Reminiscências da Serra, 1556 - 1983" e foi tema de uma Reportagem do Pesquisador Thiago Dal Col, na Revista NU/ZÊNITE, editada nos dias atuais na cidade da Serra, ES. São Mateus da Serra (ES) é uma localidade atualmente extinta. O historiador Wilson Lopes de Resende, em obra já citada de 1949, com o título "A Insurreição de 1849 na Província do Espírito Santo", tece elogios ao Frei Gregório, relatando: "Os escravos, (...) aguardavam pacificamente outra oportunidade redentora (...) quando apareceu na Freguesia do Queimado um Sacerdote, desses heróicos missionários catequistas que sempre se bateram contra a escravidão e a quem tanto deve o Brasil Colonial. Chamava-se ele Frei Gregório José Maria de Bene. Embora italiano, amou essa terra, que escolhe para missionar e, vendo a vida que levavam os escravos, num flagrante antagonismo com o espírito de liberdade, que sacudia as revoluções liberais do Brasil até a velha Europa, pensou em minorar-lhes os sofrimentos. Passou, desde então, a auxiliá-los espiritualmente, incutindo-lhes os ensinamentos da religião, fazendo-os bons e humildes para imitar a Cristo. (...) Animado com número tão elevado de fiéis, o Missionário resolveu erigir um Templo no meio de uma povoação de cinco mil almas. Os escravos não se cansavam de pedir em suas orações ao Todo Poderoso para que lhes enviasse suas bênçãos e lhes concedesse a graça de obter a alforria no dia em que a construção terminasse. Frei Gregório, certo da formação cristã dos Senhores vizinhos, chegou mesmo a admitir que os escravos pudessem conseguir o que tanto almejavam." Pelo texto de 1949, de Wilson Lopes de Resende, observa-se que ele se refere ao Padre Gregório como um desses "heróicos missionários catequistas que sempre se bateram contra a escravidão." Após tais prisões, procurou-se dar pouca importância ao fato. Assim, por muitos anos a população da Serra e do Espírito Santo minimizavam o fato ocorrido no Distrito do Queimado, procurando menosprezar a luta dos negros pela liberdade. Alegavam que teria ocorrido apenas uma desobediência dos negros aos seus Senhores, desobediência esta que teria sido finalizada pela ação impiedosa e cruel das forças policiais legalistas, ou seja, os policiais da época, que tinham por missão fazer cumprir as leis existentes. AS PRISÕES, O JURI E OS CASTIGOS Os escravos presos foram recolhidos na Cadeia Pública de Vitória. Lá chegaram a passar fome, segundo relato do Carcereiro da Cadeia, Joaquim José dos Prazeres. Manoel, escravo do Capitão Paulo Coutinho Mascarenhas morreu na Cadeia por estar gravemente ferido e em razão "dos horrores de uma viagem forçada desde o Queimado." FUGA MILAGROSA - No dia 7 de dezembro de 1849, cinco presos conseguiram fugir da prisão. O carcereiro de repente "foi acometido de um sono profundo, esquecendo aberta a porta da cela dos negros." Na prisão não foi encontrado vestígio de arrombamento e logo, a fuga foi atribuída a milagre de Nossa Senhora da Penha, uma vez que segundo o escritor José Paulino: "Havia três noites que Elisiário obrigava os companheiros de prisão a rezar." Na terceira noite, quando rezavam a Nossa Senhora da Penha: "A porta da prisão miraculosamente se abriu." Na verdade o carcereiro Joaquim dos Prazeres ficou com pena dos negros e os soltou, tendo sido preso e confessado que soltara os negros, pois eles estavam sendo maltratados e sofriam passando até fome na prisão. Os fugitivos foram: Eduardo Pinto de Vasconcelos; Manoel Matos; Elisiário; João, o Pequeno; Carlos, o escravo do Dr. João Clímaco. Não consta terem sido recapturados os Negros fugitivos, que fugiram para as mata do Mestre Álvaro e do Mochuara e alguns chegaram a construir um quilombo na região de Cariacica conhecida hoje como Piranema. Elisiário tornou-se uma lenda para os negros que almejavam a liberdade, sendo cognominado o Zumbi da Serra, numa alusão ao herói Zumbi dos Palmares. Com a prisão havia necessidade da punição. Para punir necessário era que se formasse um espetáculo que mostrasse a legalidade das punições que seriam imputadas aos revoltosos. Assim, no dia 31 do mês de maio, o Juiz Municipal, Dr. José de Melo e Carvalho, convocites que Elisiário obrigava os companheiros de prisão a rezar." Na terceira noite, quando rezavam a Nossa Senhora da Penha: "A porta da prisão miraculosamente se abriu." Na verdade o carcereiro Joaquim dos Prazeres ficou com pena dos negros e os soltou, tendo sido preso e confessado que soltara os negros, pois eles estavam sendo maltratados e sofriam passando até fome na prisão. Os fugitivos foram: Eduardo Pinto de Vasconcelos; Manoel Matos; Elisiário; João, o Pequeno; Carlos, o escravo do Dr. João Clímaco. Não consta terem sido recapturados os Negros fugitivos, que fugiram para as mata do Mestre Álvaro e do Mochuara e alguns chegaram a construir um quilombo na região de Cariacica conhecida hoje como Piranema. Elisiário tornou-se uma lenda para os negros que almejavam a liberdade, sendo cognominado o Zumbi da Serra, numa alusão ao herói Zumbi dos Palmares. Com a prisão havia necessidade da punição. Para punir necessário era que se formasse um espetáculo que mostrasse a legalidade das punições que seriam imputadas aos revoltosos. Assim, no dia 31 do mês de maio, o Juiz Municipal, Dr. José de Melo e Carvalho, convoca o Júri para uma reunião extraordinária com o objetivo da instalação do tribunal para o julgamento dos insurgentes. O Tribunal foi presidido pelo juiz Dr. Ignácio Accioly de Vasconcelos, tendo como escrivão, o Sr. Manoel Gonçalves de Araújo, como promotor, o Sr. Manoel Morais Coutinho, e como advogado de defesa, o padre João Clímaco de Alvarenga Rangel. O Jornal Correio da Vitória publica notícia sobre o Julgamento dos Negros Escravos do Distrito do Queimado. "Reuniram-se no dia 31 do mês passado (31 de maio de 1849), no paço da Câmara Municipal desta Capital o Juri extraordinário, convocado para julgar o processo instaurado contra os escravos, que se insurgiram na Freguesia do Queimado no dia 19 do pretérito e tendo-se conservado em sessão permanente até o dia 2 do corrente às 10 horas da manhã, sentenciou-se cinco a pena última, como cabeças, vinte e cinco a açoites e seis foram absolvidos. Faltam a ser julgados quatro que ainda permanecem foragidos e que, com os que já foram julgados, foram pronunciados incursos no artigo 113 do Código Penal." Do CORREIO DA VICTORIA, Nº 03, 09/01/1850 – P. 01: “- Ao Juiz Municipal desta cidade participando que foram expedidas as necessárias ordens sobre o que solicita no seu ofício desta data, relativamente a uma das cabeças da insurreição que teve lugar no Queimado, e que deve ser ali executado no dia 8 do corrente. - Ao delegado da vila da Serra para que faça seguir para o Queimado a disposição do alferes da companhia de pedestres João Antonio da Silva as cinco praças da mesma companhia que ali existem, e que os cidadãos aos quais se entregaram as dez armas daqui remetidas, a fim de assistirem a execução de uma das cabeças da insurreição a qual deve ali ter lugar no dia 8 do corrente as 6 horas da manhã. - Ao cônego vigário da vara d’esta cidade para que providencie a fim de que os dois frades franciscanos existentes n’esta capital, e vila do Espírito Santo acompanhem um dos cabeças da insurreição que teve lugar na freguesia do Queimado, e que deve ser ali executado no dia 8 do corrente as 6 horas da manhã, a fim de prestar-lhes os socorros de nossa religião, devendo ambos entenderem-se com o Juiz Municipal a respeito da hora em que tem de partir d’esta cidade.” ENFORCAMENTO DE JOÃO DA VIÚVA E MORTE DE CHICO PREGO João da Viúva Monteiro, morreu enforcado na Vila de São José do Queimado no dia 8 de Janeiro de 1850. Chico Prego foi enforcado na Vila de Nossa Senhora da Conceição da Serra, no dia 11 de Janeiro do mesmo ano, (1850). Outros em número de 25 são condenados a açoites. A pena de açoite foi executada na Praça do Cais da Alfândega em Vitória, em pleno dia e à vista de toda a população, "para servir de exemplo". Os açoites iam de 200 a 1.000 chibatadas e segundo o historiador Francisco Eugênio de Assis, "o relho ia caindo seguidamente, salpicando as pedras do calçamento de pedaços dos infelizes. Os cães afluíam ao local, para sorver o sangue que porejava de suas feridas abertas com o látego. Cada escravo que caísse esperava a morte. Os executores, verdadeiros canibais, disputavam o primado da malvadez e da perversidade na execução do castigo." O Carrasco que realizou o enforcamento de João da Viúva e de Chico Prego chamava-se Ananias e veio do Rio de Janeiro no navio Boa Sorte. A forca foi construída pelo Carpinteiro Camilo de Lélis. Na morte de Chico Prego na Serra Sede aconteceu um imprevisto. A forca não foi suficiente para matar o Negrão Chico Prego. Foi preciso o carrasco Ananias subir em seus ombros para tentar matá-lo. Mesmo assim, Chico Prego não morre. Ananias corta a corda e o negrão cai ao chão. Chico Prego só morre quando Ananias, com um porrete esmaga-lhe o crânio. Do CORREIO DA VICTORIA, Nº 03, 09/01/1850 – P. 04: “POST SCRIPTUM - Ontem às 10 horas da manhã teve lugar na freguesia do Queimado a execução de um das cabeças da insurreição que ali apareceu em 19 de março do ano passado. Consta-nos que o executado mostrou a maior presença de espírito. O outro que resta tem de seguir hoje para a vila da Serra a fim de ser igualmente executado. Temos razões para acreditar que os três que se evadiram da cadeia desta cidade não ficarão impunes por que o Exmo. Sr. Presidente da Província, de acordo como Sr. Dr. Chefe de Polícia há expedido as necessárias providências para a sua captura.” Na explicação do Arquivo Público ao pé da página consta que a execução ocorreu por enforcamento. Do CORREIO DA VICTORIA, Nº 05, 16/01/1850 – P. 04: “No dia 11 do corrente foi executado na vila da Serra o último cabeça da Insurreição do Queimado, que existia na cadeia desta cidade, e que para ali seguiu no anterior. A respeito dos três, que se evadiram, nada consta, no entanto que o Exmo. Sr. Presidente da Província não se descuida de continuar nas diligencias de fazê-los capturar. Espalha-se que os próprios Srs. lhes dão agasalho; nós jamais acreditaremos em semelhante noticia, pois que concedemos a esses indivíduos muito senso para não verem que um tal procedimento é um atentado contra a lei e segurança, sua e de seus concidadãos.” LÍDERES DA REVOLTA Escravo não tinha nome de família no Brasil. Apenas pré-nome. Não havia o chamado sobrenome. Para sua melhor identificação recebia o nome da família do seu proprietário, seu dono. Na preparação da Insurreição e comandando o movimento estavam: 1 - Elisiário Rangel - Chefe da Insurreição. Era um Negro estudado. Sabia ler e escrever. Tinha sido preparado pelo seu proprietário, Faustino Antônio de Alvarenga Rangel. Destacava-se pela inteligência, já que Faustino Rangel lhe proporcionara a oportunidade de ler e aprender ofício de Carpinteiro. Estava sempre reunido com o Frei Gregório Maria Bene e dele recebia ensinamentos religiosos e ideais de liberdade, já que o Frei, Italiano de nascimento, era contra a escravidão. Foi preso. Na cadeia liderava os negros, para que não se abatessem e rezassem sempre. Misteriosamente fugiu da cadeia de Vitória. Tornou-se uma lenda, pois, mesmo perseguido pelas autoridades policiais, não foi mais encontrado, passando a ser um herói entre os negros que almejavam a liberdade. A sua fuga foi cantada em prosa e versos como um "milagre de Nossa Senhora da Penha", já que não houve vestígios de arrombamento na porta da prisão e o carcereiro, ao ser preso após a fuga, admitira que fora tomado de "um sono profundo." Segundo a escritora Maria Stella de Novaes, Elisiário "morreu isolado nas matas" e, segundo outros historiadores: "Morreu feliz nas graças da Virgem Nossa Senhora da Penha, com um agrupamento de negros fugitivos, nas matas do Mestre Álvaro e do Morro do Mochuara." Pesquisas revelam que Elisiário e um grupo de negros fugitivos seguiram para uma região após o Morro do Mochuara, em Cariacica, formando um quilombo denominado de Piranema. 2 - Francisco de São José, o Chico Prego. Escravo de Ana Maria de São José. Era um dos Chefes da Insurreição. O Chico vem de Francisco e a palavra Prego tinha sentido pejorativo, pois se referia a uma espécie de macaco da região do Amazonas. Enquanto Elisiário destacava-se pela inteligência, Chico Prego, negro alto e forte, liderava pelo seu espírito de luta, por sua coragem. Foi preso e condenado à morte na forca. Preso, Chico Prego foi levado para a Serra, viajando a pé, as seis léguas. Na Serra assistiu a construção do patíbulo. Na data e hora marcada, percorreu as principais ruas da Serra ao som de um tambor surdo e sinos da Igreja. O cortejo parava de momentos em momentos para que fosse lida a sentença. Defronte à forca, recebe a última unção religiosa. De mãos atadas sobe as escadas do patíbulo. O carrasco Ananias passa-lhe a corda em redor do pescoço e impele o negro para o espaço, fazendo pressão sobre os ombros para maior pressão da corda. Cinco minutos depois a corda é cortada. O corpo cai no chão e o negro ainda agoniza. O carrasco Ananias com um pedaço de pau, esmaga-lhe o crânio, os braços e as pernas. O relato com detalhes da morte de Chico Prego, Herói da Liberdade na Serra, encontra-se na obra "A Insurreição de 1849 na Província do Espírito Santo", de Wilson Lopes de Resende, do Colégio Estadual "Muniz Freire", tese aprovada no IV Congresso de História Nacional. O livro é das Edições Itabira, Cachoeiro de Itapemirim, 1949, página 15 e 16. Chico Prego foi executado na sede da Vila de Nossa Senhora da Conceição da Serra, no dia 11 de janeiro de 1850, "nas proximidades da Igreja, para servir de exemplo." Sobre o local exato onde Chico Prego foi enforcado na Sede do Município, no "largo da Igreja." Historiadores informam ter sido o local onde atualmente está construída a Praça Ponto de Encontro, próximo a Igreja Nossa Senhora da Conceição na Serra Centro. O Escritor Capixaba Genilton Vaillant de Sá em e-mail (Correio eletrônico) enviado a Clério José Borges informa o seguinte: De: genilton.sa@bol.com.br - Enviada: Quarta-feira, 24 de Setembro de 2014 23:00 - Para: cj-anna@bol.com.br - Assunto: Chico Prego Contesto veemente a versão pejorativa de que o escravo Francisco fora alcunhado de Chico Prego em razão de sua aparência lembrar um Sapejus (Cebus apella), vulgarmente conhecido por macaco-prego, espécie animal que, por sua vez, recebe esse cognome em função dos órgãos genitais, tanto pelo formato do pênis, quanto do clitóris. Francisco de São José (alusão à Freguesia de São José do Queimado) era escravo na propriedade agrícola. Assim, Chico Prego era escravo de dona Anna Maria de São José viúva de José dos Santos Machado, filho do Capitão Francisco dos Santos Machado, falecido em 1793, e de dona Leonor Paes de Lírio, falecida em 08-04-1789. José dos Santos Machado tinha 5 irmãos, dentre eles Francisco dos Santos Machado, o Juiz Almotacel ou Almotacé (do árabe al-muhtasib), antigo Inspetor encarregado da aplicação exata dos pesos e medidas e da taxação dos gêneros alimentícios. Em razão dos senhorios Franciscos (avô e neto), que, por certo, também na intimidade recebiam o termo hipocorístico de Chico, o escravo era identificado como Chico Preto, no caso, Chico Prego, por questão meramente regional, já que em São Mateus a influência baiana, na ocasião, era bem evidente. Pela ordem, assim os lexicólogos Aurélio Buarque de Holanda Ferreira e Antônio Houaiss definem o vocábulo PREGO: - brasileirismo da Bahia, indivíduo de cor preta; preto; negro; - termo informal na Bahia, indivíduo negro. Entendo, pois, que para bem se identificar o Juiz Francisco e o escravo Francisco, ambos chamados na intimidade de Chicos, os distinguiam pela cor. Assim, o Juiz Francisco, era apenas Chico e o escravo, Chico Prego, ou seja, Preto, brasileirismo próprio da Bahia. Chico Prego, pelo que me consta, era destemido, resoluto, justo, trabalhador e muito respeitado, quer pelos escravos, quer pelos senhorios, motivos pelos quais exercia uma grande liderança. Essa sua postura assente e equânime despertou inveja, rancor e a infâmia de alguns escravocratas que junto ao governo da província decretaram a sua humilhação até à morte. Vejam o meu Soneto: Chico Prego (Apregoador Enteu da Liberdade) Soneto decassílabo misto de sáfico e heroico do Poeta Escritor Capixaba, Genilton Vaillant de Sá Sem demonstrar nenhum medo, sisudo, a passos firmes segue o seu cortejo, enquanto o seu algoz, alheio a tudo, o aguarda com ar de cruel sobejo! Degraus do cadafalso sobe mudo, não esboça reação, sequer entejo, pois tem consciência que, apesar de tudo, não há de ser em vão o seu desejo! Guerreiro destemido como um bravo! Pleno de fé, livra do corpo escravo a alma, numa exemplar manumissão! Chico Prego imortal, transcendental, merece o elã de estar no pedestal como o Mártir Enteu da Abolição! Genilton Vaillant de Sá Escritor, poeta e trovador parnasiano Praia do Canto – Vitória - ES 3 - João, o Pequeno. Escravo de Rangel e Silva. Foi um dos líderes da Insurreição e por isto condenado à forca. Fugiu da prisão com Elisiário não sendo mais encontrado. 4 - João da viúva, assim chamado porque pertencia a viúva Monteiro. João Monteiro, o João da Viúva. Escravo de Maria da Penha de Jesus, a viúva Monteiro. Foi também um dos líderes da Insurreição e condenado à pena de morte. Consta que no Julgamento disse ser inocente, e que o culpado era o frei Gregório de Bene, que prometera liderar o movimento de liberdade e no momento mais importante, escondera-se dos negros. Suas declarações são relatadas por carta pelo cônego Francisco Antunes Siqueira, advogado nos autos do processo, ao Presidente da Província, Felipe José Pereira Leal, em 10 de janeiro de 1850. O escravo João da Viúva foi executado em Queimado, na forca, às 6 horas da manhã, do dia 8 de janeiro de 1850, três dias antes da execução de Chico Prego na sede da Vila da Serra. RELAÇÃO DE OUTROS REVOLTOSOS Carlos, irmão de Elisiário, escravo do padre Dr. João Clímaco de Alvarenga Rangel. Foi preso e condenado a morte. Fugiu da prisão, junto com Elisiário, não sendo mais recapturado. Cândido, escravo do Capitão José Monteiro Rodrigues Velho. Preso. João, escravo do Capitão José Monteiro Rodrigues Velho. Preso e açoitado. Segundo o pesquisador Djailson Martins Rocha, José Monteiro Rodrigues Velho era conhecido como Capitão Velho e foi eleito Juiz de Paz na Serra em 1º de fevereiro de 1849. Cipriano, escravo de Joaquim José dos Santos. Foi executado, de "forma selvagem" na hora da prisão. Venceslau. Negro que veio do sertão de Mangaraí. Preso. Benedito, escravo de José Roriz de Freitas. Preso. Joaquim, escravo de José Roriz de Freitas. Preso. José Roriz de Freitas era parente de Francisco Roriz, que foi vítima de um disparo de 17 caroços de chumbo, desferido por um dos Negros revoltosos, comprovando-se a tese de que houve realmente uma Insurreição, uma revolta, com tiros desferidos também pelos negros, havendo excessos de ambas as partes. Os negros alegando que se defendiam e as Forças Policiais legalistas alegando estarem cumprindo um dever cívico. Sebastião, escravo de Faustino Antônio de Alvarenga. Foi preso, e seu corpo misteriosamente apareceu boiando nos fundos da casa de Domingos José de Freitas, em Vitória. Segundo as autoridades o escravo fugiu, lançando-se ao mar e morreu afogado. João, o pequeno. Escravo de Rangel e Silva. Foi um dos líderes da Insurreição e por isto condenado à forca. Com Elisiário e Carlos, escravo de João Clímaco, conseguiu fugir da prisão, não constando ter sido mais encontrado. Consta que Elisiário, Carlos e João, o pequeno formaram com outros escravos fugitivos, um núcleo de Negros que conseguia driblar as incursões dos batedores do mato que caçavam negros fugitivos. Invocando sempre a proteção divina de Nossa Senhora da Penha tais negros nunca eram localizados. João Francisco, velho escravo do padre João Clímaco. Com a Insurreição resolvera sair andando sem destino "sonhando com a liberdade." Não estava entre os revoltosos. Foi morto ao ser encontrado por Policiais, no rio (Córrego) Aroaba, comprovando-se a tese de que os Policiais na perseguição aos revoltosos, começaram a atirar em todos os negros que surgissem, tivessem eles participando da Insurreição ou não. Eduardo Pinto de Vasconcelos. Escravo que recebera nome de família do seu Senhor. Foi condenado às Galés Perpétuas com trabalhos forçados, já que lhe fora atribuída, sem provas, a autoria dos tiros que atingiram alguns Policiais. Conseguiu fugir da prisão com Elisiário, João, o pequeno e Carlos. Não consta ter sido recapturado. Manoel Matos. Escravo acusado, de disparar e ferir o Comandante Varela, no lugar conhecido por Ladeira de João dos Santos. Foi condenado às Gales Perpétuas com trabalho forçado. Conseguiu fugir da prisão com Elisiário, João, Carlos e Eduardo. Não consta ter sido recapturado. O pesquisador Fábio Xavier, de Arapoti, Paraná, informa que um dos proprietários de escravos no Queimado era José Rodrigues Lima, que tinha o apelido de Cajuza. O Chefe da Insurreição, Elisiário Rangel fugiu da prisão, por um descuido do Carcereiro. Existe a versão de que o Carcereiro havia ingerido bebida alcoólica (Cachaça) e dormido. A fuga ocorreu na madrugada do dia 7 de dezembro de 1849 e além de Elisiário fugiram Carlos e João. Chico Prego e João da Viúva Monteiro, presos em outra cela, não puderam escapar. Buscas foram realizadas. Recompensa em dinheiro para quem recuperasse os fugitivos, mas, os mesmos jamais foram encontrados. Segundo a lenda, a fuga foi devido a um Milagre de Nossa Senhora da Penha. Elisiário fugiu inicialmente para as matas da Montanha do Mestre Álvaro e depois para a região do Município de Cariacica, onde junto com outros fugitivos formou um Quilombo no local hoje denominado de Piranema, (Cariacica, ES). O ITALIANO FREI GREGÓRIO JOSÉ MARIA DE BENE HERÓI OU VILÃO? - MOCINHO OU BANDIDO? Condenar o padre Frei Gregório José Maria de Bene por uma promessa de Liberdade é muito prático pelos que olham os fatos de acordo com os seus interesses. O advogado dos Escravos, padre João Clímaco de Alvarenga Rangel, que nascera no Queimado, apresentou a versão de que o Frei Gregório era culpado. Tinha interesses, já que era dono de três dos Escravos envolvidos na Insurreição, um dos quais, Carlos que fugira da Cadeia com Elisiário e nunca mais foi encontrado. O número de escravos que teriam ajudado a levantar o templo, conforme documentos históricos não passaram de vinte. E foram trezentos que participaram do levante. Interpretando historicamente os fatos observa-se que o principal líder da revolta, Elisiário, aproveitou as idéias do padre, que em seus Sermões, apresentava Senhores e Escravos como irmãos em Cristo e, portanto, iguais, num discurso igualitário, próprio do Cristianismo. Assim de forma planejada com bastante antecedência, Elisiário uniu-se a Chico Prego, a Domingos Corcunda, Carlos, Eleutério, Benedito, João da Viúva, João Pequeno e o irmão de Elisiário, também chamado João e tantos outros e acabaram por criar um movimento, que hoje é reconhecido como marco histórico das lutas libertárias do Negro em nosso país. Gregório José Maria de Bene nasceu em Roma, na Itália. Foi missionário na Índia e chegou ao Espírito Santo em 23 de setembro de 1844, junto com outros Capuchinhos, para trabalhar na catequese indígena. Trabalhou no Sul do Estado na região de Iúna, na Paróquia Nossa Senhora mãe dos homens. Depois foi designado para a Freguesia da Serra, que já existia desde 1769, indo trabalhar num lugarejo de nome Sítio Tapera, perto do Queimado até 1847, quando foi nomeado vigário da Freguesia do Queimado, tomando posse da função em julho de 1848. A criação da Freguesia do Queimado e a indicação do Frei Gregório foi uma solicitação dos próprios moradores, conforme Carta do Presidente da Província, Antônio Joaquim de Siqueira ao Bispo do Rio de Janeiro, datado de 8 de março de 1848: "Tenho a honra de passar às mãos de V. Exa o incluso requerimento dos habitantes do lugar denominado Queimado, e sua circunvizinhança, pedindo a V. Exa. a graça de nomear Vigário encomendado dessa Freguesia a Fr. Gregório Maria de Bene, Missionário Capuchinho. Sendo tal nomeação de competência de V. Exa. não faço mais com esta ciência do que satisfazer os desejos daquele povo, suplicando que, por meu intermédio, fizesse chegar o dito requerimento à presença de V. Exa. que sobre seu objeto definirá com a sabedoria, que caracteriza todos os seus atos. Julgo, porém do meu dever informar a V. Exa., que por Lei Provincial, de 27 de julho de 1846, decretada antes da minha administração foi elevado o sobredito lugar a Freguesia, como V. Exa. verá cópia junta, e que nele está sendo erigindo aquele Missionário, à custa dos Fiéis, e por meio de suas exortações um majestoso templo, de pedra e cal, que tem de ser dedicado ao Patriarca São José, exercitando a admiração de todos, por sua grandeza, e por se estar fazendo, pudesse dizer, no centro da pobreza. Já vi essa igreja, e creio que concluída será uma das mais importantes da Província." (Fonte: Secretaria de Governo, livro 132 In: ROSA, 1979, p. 139- 140). Ainda sobre a origem de Frei Gregório, pela Internet e através de e-mail (Correio eletrônico), o Escritor Alessandro Dell’ Aira assim relata: “Sou italiano e Diretor de Escola e tenho 65 anos. Parabéns pelo seu livro sobre a “História da Serra”, cuja versão li na Internet. Nasci em Palermo e vivo na cidade de Trento. Não sei de onde era o padre Gregório. Do se apelido “Bene” não consigo localizar a procedência geográfica, de qualquer forma a hipótese inicial é que fosse ele também, como o Padre Ubaldo, natural de Civitella del Trento, pequena cidade do centro da Itália. (...)” Após o episódio da Revolta do Queimado, a presença do Frei Gregório foi considerada nociva no Espírito Santo. O Presidente da Província acabou por "mandá-lo embora." Os ideais de liberdade pregados pelo frei não foram bem recebidos pelos exploradores da mão de obra escrava, que aproveitaram para reunir todas queixas possíveis contra o mesmo, com a finalidade de "expulsá-lo do Espírito Santo." Frei Gregório acabou indo para a região do Amazonas, onde de 1850 a 1854, evangelizou em vários núcleos urbanos e Vilas. Em 1854 deixou os serviços missionários e passou a morar em Manaus, conforme o historiador Artur César Ferreira Reis em pesquisa para o escritor José Teixeira de Oliveira. Existe a versão de que a atitude do padre foi "maliciosa e esperta" para com os negros. Mas, esta versão é falsa. Foi criada pelos Senhores da região. Na verdade, Frei Gregório, desejava realmente promover a liberdade dos escravos. Frei Gregório não prometera conceder a liberdade e sim prometeu interceder para que fosse dada a alforria. Citado como espertalhão, deve-se resgatar a memória do padre Frei Gregório, como verdadeiro defensor da liberdade dos escravos. Há quem diga que a expressão “Conto do Vigário”, teria se originado da atitude insegura e fraca do Frei Gregório Maria De Bene. Na verdade a expressão “Conto do Vigário” refere-se a um “falso” padre que começou a pedir dinheiro a várias pessoas e depois fugiu de uma cidade no interior do Brasil. HERÓICO MISSIONÁRIO - O historiador Wilson Lopes de Resende, em obra de 1949, com o título "A Insurreição de 1849 na Província do Espírito Santo", tece elogios ao Frei Gregório, relatando: "Os escravos, (...) aguardaram pacificamente outra oportunidade redentora (...) quando apareceu na Freguesia do Queimado um Sacerdote, desses heróicos missionários catequistas que sempre se bateram contra a escravidão e a quem tanto deve o Brasil Colonial. Chamava-se ele Frei Gregório José Maria de Bene. Embora italiano, amou essa terra, que escolhe para missionar e, vendo a vida que levavam os escravos, num flagrante antagonismo com o espírito de liberdade, que sacudia as revoluções liberais do Brasil até a velha Europa, pensou em minorar-lhes os sofrimentos. Passou, desde então, a auxiliá-los espiritualmente, incutindo-lhes os ensinamentos da religião, fazendo-os bons e humildes para imitar a Cristo. (...) Animado com número tão elevado de fiéis, o Missionário resolveu erigir um Templo no meio de uma povoação de cinco mil almas. Os escravos não se cansavam de pedir em suas orações ao Todo Poderoso para que lhes enviasse suas bênçãos e lhes concedesse a graça de obter a alforria no dia em que a construção terminasse. Frei Gregório, certo da formação cristã dos Senhores, chegou mesmo a admitir que os escravos pudessem conseguir o que tanto almejavam." Pelo texto de 1949, de Wilson Lopes de Resende, observa-se que ele se refere ao Padre Gregório como um desses "heróicos missionários catequistas que sempre se bateram contra a escravidão." FRACO E MEDROSO - Padre Gregório chegou inclusive a ser expulso do Espírito Santo em razão de sua participação a favor dos escravos. O único problema ocorrido é que os negros acabaram empunhando em armas, no que o Padre não concordou e acabou não mais apoiando o movimento dos escravos. Frei Gregório foi preso pelas forças policiais no dia 20 de março e, mais tarde expulso do Espírito Santo. A participação do frei Gregório foi fraca. Mostrou-se uma pessoa medrosa, sem espírito de liderança para encabeçar o Movimento, mas como Italiano, o Capuchinho nada podia fazer. Não estava em seu país natal. Era um visitante. Liderar um movimento de revolta contra a legalidade em vigor seria assinar a sentença de expulsão definitiva do país e isto Frei Gregório não queria, pois já admirava e amava o Brasil. Frei Gregório Maria de Bene foi considerado o grande responsável pela Insurreição ocorrida, e, em documento datado de 26 de setembro de 1849, o Presidente da Província, Felipe José Pereira Leal, escreve que Frei Gregório é: "O único capaz de receber a imputação do crime. (...) Amanhã regressam no vapor Guapiaçu Frei Gregório Maria Bene e Frei Ubaldo de Civitella de Trento. JURAMENTO DE FREI GREGÓRIO - Historicamente existe a versão do padre. No juramento que prestou por escrito no dia 25 de março de 1849, dias depois do início da Revolta, ele nega a acusação de ter liderado os Negros. Escreveu, em sua declaração: “Eu não podia, nem devia, nem queria lhes dar carta de alforria”. O juramento de defesa feito pelo Frei Gregório José Maria de Bene em prol do seu caráter sacerdotal, diante das conexões de seu nome com os negros rebeldes foi publicado no Jornal CORREIO DA VICTORIA, Nº 28, 21/04/1849 – P. 04: "Sr. Redator Aqui vai a cópia do juramento que fiz no dia 25 do corrente para defender meu caráter sacerdotal na aleive maliciosa e ímpia que os negros cativos me levantaram para encobrir e defender sua malvada e rebelde conduta. Faça-me o favor de inserir no seu periódico se não houver coisa contraria as leis de sua tipografia. O vigário frei Gregório José Maria de Bene. – Queimado 26 de março de 1849. - Juramento do padre Fr. Gregório José Maria de Bene vigário encomendado da igreja de São José do Queimado no dia 25 do corrente diante de JESUS CHRISTO SACRAMENTADO depois da elevação da Sagrada hóstia. - Eu Fr. Gregório indignissimo ministro da Cruz juro diante d’este verdadeiro Deus e verdadeiro homem, e chamo ele em testemunha de minha inocência (na grande e maliciosa aleive que os negros cativos levantaram-me no Queimado e na cidade de Vitoria diante das autoridades) juro, repito de novo, que eu não fui causa, nem aconselhei a eles no Motim, que fizeram no dia de São José 19 do corrente. Digo tambem, que os Srs. Manoel Salles, José Pinto Lima, sacristão, Manoel Correia e João cativo da Sra. D. Maria da Penha Pereira, de Una foram presentes quando os rebeldes cativos constrangeram-me a abrir as portas da própria casa, e ouviram que eu disse abertamente ao infeliz e ímpio Elisiário cativo (escravo) do Sr. Faustino Antonio DE Alvarenga Rangel, chefe do motim, que eu não podia, nem devia, nem queria dar-lhes carta de alforria, nem dizer alguma coisa relativamente a quanto exigiram de mim e a sua malvada revolta, mais disse-lhes, que obedecessem aos seus Senhores e voltassem para suas casas, que eu era pronto para patrociná-los, digo mais, que por ordem do Sr. João da Victoria Lima, juiz de paz d’este distrito, e por conselho do Sr. Manoel de Oliveira Campos, eu tinha mandado fechar as portas da igreja, e era resolvido de mais não celebrar o Santo Sacrifício e a largar o Queimado, e por tal efeito já tinha enviado a fechar as portas os Srs. Joaquim Ribeiro, Manoel Correia e José Pinto Lima, sacristão (por causa dos negros rebeldes que cercavam, como me disseram nos matos vizinhos) estavam prontos a executar as minhas ordens: quando já estava-se fechando as portas, apresentou-se em minha casa o Sr. professor Manoel Pinto d’Alvarenga Rosa e dissuadiu-me da minha firme resolução e aconselhou-me de não fechá-las, dizendo que assim fazendo era o mesmo que fazer ver aos rebeldes, que os brancos do Queimado eram covardes, e que os negros nesta ocasião tomariam mais coragem e vantagem em sua revolta á esta representação, eu, homem sem experiência e sem malicia, cedi á sua instancia as fiz deixá-las abertas, pensando que este homem me aconselhasse por puro zelo, por isso é que celebrei a missa, que deixei no meio por medo de ficar vitima dos rebeldes. Porem eu confio neste Deus escondido debaixo dos véus Sacramentais que há de defender a minha inocência, e confundir os meios aleivosos inimigos. Deus lhes perdoe e use com eles misericórdia. - Fr. Gregório José Maria de Bene. Nova Freguesia de São José do Queimado” Na foto ao lado, um grupo de Turistas, Poetas Trovadores visitando, no dia 05 de novembro de 2011, a Estátua de Chico Prego, na Praça Almirante Tamandaré, no Centro da Serra. A Estátua é uma obra do Artista Plástico Tute, (Jenézio Jacob Kuster). UMA MULHER ESCRAVA NA INSURREIÇÃO A notícia do fim da Insurreição (Revolta) do Queimado é relatada em Ofício (Carta) do Chefe do Polícia, José Inácio Acioli de Vasconcelos ao Presidente da Província, datado de 20 de março de 1849. O Ofício revela a presença de uma Escrava participando da Insurreição, da Revolta do Queimado. Guerreira. Mulher de um dos Escravos: "Cumpre-me levar ao conhecimento de Vossa Excelência que cheguei hoje a esta Freguesia do Queimado às 4 horas da manhã e constando-me, poucos momentos depois, que um grupo de escravos armados, em número de cinquenta mais ou menos, estava reunido nas imediações dela, e que se dirigia para aqui com o plano de proclamarem a sua liberdade, e de assassinarem todos aqueles que porventura a isso se opusessem, dei imediatamente ordem ao Alferes, comandante do Destacamento, que marchasse sobre eles com as praças à sua disposição e com mais alguns cidadãos que pude reunir, conservando-me aqui com algumas pessoas deste Distrito. E, sendo os ditos Escravos encontrados na ladeira que desce para Aroaba, em direção para esta Freguesia, foram aí completamente batidos pelo referido Destacamento, e gente a ele reunido, em um ataque que durou seguramente meia hora, sendo em resultado mortos oito, presos seis e uma Escrava, mulher de um deles (...)" O Escritor Luiz Guilherme Santos Neves na sua obra Literária "O Templo e a Forca", que funde ficção com o fato histórico da Revolta do Queimado, cria a figura da Escrava Bastiana. Ela seria a tal negra anônima citada no ofício do Chefe de Polícia e que participa da luta entre os Negros revoltosos e a milícia (Polícia) e seria a mulher de Chico Prego. Um romance amoroso de um herói da Serra. Já o Escritor João Felício dos Santos, autor do Romance "Chica da Silva", sucesso no Cinema sob a direção de Cacá Diegues, cria a figura de Benedita Torreão, trabalhando de forma literária dentro de uma ficção histórica, explorando a presença da mulher, afro-brasileira presa pelo Chefe do Polícia, José Inácio Acioli de Vasconcelos, no dia 20 de março de 1849. Trata-se do Romance, "Benedita Torreão da Sangria Desatada", publicado no Rio de Janeiro em 1983, que conta a saga de uma Escrava que realiza abortos na intenção de livrar os Negros do Cativeiro ainda antes de nascerem. Na propaganda do referido Romance consta como Sinopse (resumo), o seguinte: "O romance põe em relevo a insurreição de Queimado, um efêmero levante de escravos, ocorrido no Espírito Santo em 1849, cujo pivô foi a igreja Matriz do Queimado, que os escravos construíram numa enganosa crença, suscitada pela má fé de um capuchinho italiano, frei Gregório de Bene, de que ganhariam alforria no final da obra. Igreja erigida com suor de escravos e consagrada com seu sangue. Multifloriado romance, que ainda lega à literatura brasileira essa personagem maiúscula que é Benedita Torreão, individualidade humaníssima, carnal e óssea que, “amante do incendiado da liberdade”, encarna o espírito da ressurreição escrava, tornando-se seu próprio símbolo e alegoria." Usando de uma licença poética e romanceando a Insurreição, com a força da ficção, técnica de imaginação inerente aos Escritores, podemos dizer que Sebastiana Benedita Torreão era a Escrava anônima citada por José Inácio Acioli de Vasconcelos. A mulher Guerreira Sebastiana, a Bastiana, companheira do Guerreiro Chico Prego. O Escritor João Felício dos Santos nasceu na comarca de Mendes, Estado do Rio de Janeiro, em 14 de março de 1911. Sobrinho do historiador mineiro Joaquim Felício dos Santos, de Diamantina, foi jornalista, publicitário e funcionário público federal. Topógrafo de profissão ingressou no Ministério de Viação e Obras Públicas em 1932. Viajou várias vezes pelo país a serviço do governo e também por conta própria, com o intuito de conhecer a história e os costumes nacionais. Sua estréia na literatura ocorreu em 1934, com o livro de poemas Palmeira-real. Em 1956, lançou o infantil João Bola. Só depois de ouvir o ponto de vista de personagens comuns sobre importantes capítulos da história nordestina foi que se sentiu apto a escrever livros como João Abade (1958), sobre a Guerra de Canudos, e Major Calabar (1960), no qual desenha um rigoroso retrato da invasão holandesa em Pernambuco. O romance Carlota Joaquina - A Rainha Devassa, publicado em 1968 (relançado em 2008 pela José Olympio), antecipou em décadas o filme de Carla Camurati. Já Ganga-Zumba antecedeu o famoso espetáculo Arena conta Zumbi, de Gianfrancesco Guarnieri e Augusto Boal. A Guerrilheira - O Romance da Vida de Anita Garibaldi antecedeu em muitos anos o livro e a minissérie A Casa das Sete Mulheres, da Rede Globo. Sua verve literária, marcada pela pesquisa e pelo texto de estilo fluente, permitiu-lhe lançar luzes sobre capítulos obscuros da vida brasileira com estilo que lembra o dos grandes clássicos. Morreu aos 78 anos, no Rio, deixando mulher, filha e o romance inédito, Rotas de Além-Mar. Chica da Silva, graças ao cinema se tornou a obra mais popular de João Felício dos Santos. Ganga-Zumba, considerado seu grande clássico, ganhou edição de bolso pela Ediouro, com ilustrações do artista plástico Caribé. Seu último livro publicado, Margueira Amarga, foi ilustrado por Poty. OBSERVAÇÕES E COMENTÁRIOS SOBRE A REVOLTA DO QUEIMADO Num discurso proferido na Assembléia Legislativa do Estado do Espírito Santo, no dia 30 de Março de 2006, durante as comemorações dos 157 anos de Aniversário da Insurreição do Queimado, uma professora da UFES - Universidade Federal do Espírito Santo, da tribuna da Assembléia defendeu a tese de que não se deve denominar a Revolta do Queimado como Insurreição. Informou que o termo Insurreição foi usado pelos Senhores para menosprezar o ato de bravura e combativo dos negros. Também defendeu a tese de que não se deve creditar ao frei Gregório Maria de Bene, a idéia inicial da luta pela liberdade, que segundo a mesma, surgiu através dos próprios negros, através da figura de Elisiário. Com relação a tais colocações, o historiador e membro do Instituto Histórico e Geográfico do Espírito Santo, Clério José Borges, nada tem contra. Segundo Clério Borges, "Elisiário teve grande importância no Movimento. Era escravo de uma família que lhe ensinou o básico para sua formação. Era negro caseiro e não trabalhava no campo, assimilando e aprendendo com o seu Senhor. É certo que o Frei Gregório não gostava da escravidão. Era de origem européia e os Europeus não gostavam da Escravidão. Frei Gregório era Italiano. Deve-se sim, creditar a frei Gregório, deixando de lado as paixões, o fato de ter iniciado, com Elisiário, Chico Prego e João Monteiro, (João da Viúva Monteiro) as primeiras conversas sobre a Liberdade dos Escravos. Mas, o movimento pregado por frei Gregório seria por vias pacíficas. Ele iria até a Imperatriz defender a liberdade dos negros escravos. São fatos históricos. Estão registrados na obra de Afonso Cláudio que fez um livro minucioso sobre o assunto e no Livro "A Insurreição de 1849 na Província do Espírito Santo", tese aprovada no IV Congresso de História Nacional e publicado em Cachoeiro de Itapemirim em 1949, cem anos depois, e de autoria de Wilson Lopes de Resende, do Colégio Estadual Muniz Freire" Clério José Borges destaca ainda o fato de que, "Os negros invadiram a Igreja gritando: Queremos alforria, queremos liberdade. Os negros estavam armados no momento da invasão da Igreja. Frei Gregório defendia um movimento pela liberdade, mas sem armas. Queria liderar, junto com os negros, um movimento pacífico. A impaciência, gerada talvez pela opressão e castigos que recebiam, levou os negros a uma atitude extrema de se armarem. De armas em punho, já não mais estavam reivindicando por vias pacíficas. Estavam indo contra as Leis vigentes. Cerca de 30 anos depois ocorreria a "Abolição da Escravatura". Com a abolição os negros foram libertados por vias pacíficas. Não foram libertados através de Insurreições ou Revoltas. Foram libertados dentro da Lei. A "Revolta do Queimado" foi uma marco da negritude em busca da liberdade, fato que ninguém pode negar, todavia foi feita ao arrepio da lei, ou seja, contra as leis vigentes no Brasil da época, pois foi feita com armas. Sem contar, o prejuízo humano das vidas que foram sacrificadas." RIQUEZAS CULTURAIS O Jornal "Correio Popular" da cidade de Cariacica - ES, já extinto e que era editado pelo saudoso Jornalista Cleilton Gomes, de 29 de março a 4 de abril de 1991, na página 7, publica a seguinte matéria da Prefeitura Municipal da Serra: "SERRA - Raízes e Riquezas Culturais - QUEIMADOS. A Insurreição de Queimados foi uma rebelião escrava ocorrida em São José de Queimados, em 1894. Frei Gregório de Bene, Italiano, era encarregado da instrução da população local. Em seus sermões, condenava a escravidão e o tratamento desumano recebido pelos escravos. Entre suas missões, havia a construção de uma Igreja na região, só que lhe faltavam recursos. Assumiu, junto aos escravos, os compromissos de libertá-los das mãos de seus senhores no dia da inauguração da Igreja, mas, para inaugurá-la, precisava da ajuda dos escravos. Os negros trabalharam em horas de folga e durante a madrugada. Na inauguração, porém, a promessa não foi cumprida, causando a revolta dos escravos. Os rebeldes se refugiaram no mato, sendo alguns capturados e outros desaparecidos, supostamente mortos de fome. Era o fim da Insurreição de Queimados. Ajude preservar a nossa história." O texto apresenta os seguintes erros: a) O ano está errado. Não é 1894. O ano é 1849. b) A palavra não é QUEIMADOS e sim QUEIMADO sem a letra "S". O mesmo texto errado foi publicado em outros jornais. ESCRAVOS DA LAMPADOSA O Guia de Informações Turísticas publicado em 1983, cujo título é "Venha Conhecer as belezas entre as Montanhas e o mar - Serra - Espírito Santo - BR", na parte relativa aos "Atrativos Culturais", diz o seguinte: "Igreja dos Escravos da Lampadosa - Ruínas localizadas no distrito de Queimados. Região onde viveram os escravos vindos da África. Palco de acontecimentos dramáticos em março de 1849 - A Insurreição de Queimados. Recomenda-se a visitação, por ter sido monumento construído com o emprego de mão-de-obra escrava e por se tratar de ruínas de um templo construído após os primeiros anos da Colonização do Solo Espírito-Santense." No texto destaca-se: a) Escravos da Lampadosa - Esta expressão refere-se a Igreja construída com trabalho escravo. b) A palavra Queimado está erradamente escrita com a letra "S" no final. c) O Templo não foi construído nos primeiros anos da Colonização do Solo Espírito-Santense e sim em 1849, ou seja, há 314 anos após a colonização do Solo Espírito-Santense, que foi a 23 de maio de 1535. A grafia correta é Distrito do "QUEIMADO". É errado escrever QUEIMADOS, com a letra S no final. Em 2011 foi inaugurada uma estrada pavimentada e asfaltada ligando a Serra Sede (região do bairro Cascata) as ruínas da Igreja de São José do Queimado e o Governo de Estado por falta de conhecimento e, para alguns, burrice, instalou algumas placas, registrando erradamente QUEIMADOS com a letra S no final. PROJETO CULTURAL CHICO PREGO O Projeto de Lei recebeu o N.º 028/95 e foi apresentado pela primeira vez na Câmara Municipal da Serra, por seu autor, Vereador Edvaldo C. Dias da Mata, no dia 11 de maio de 1995. O Projeto consiste na concessão de incentivo fiscal para a realização de Projetos Culturais nas áreas de Música, Dança, Teatro, Literatura, Cinema, Vídeo, Artes Plásticas, Folclore, Ciências Sociais, Museus e Associações Culturais, etc., sendo beneficiada pessoa física ou jurídica domiciliada no Município, no mínimo há dois anos. Justificando o nome de Chico Prego dado ao Projeto, o então Vereador Edvaldo relata: "... Daí nossa homenagem a "Chico Prego" - escravo refugiado do Quilombo de Queimado que na luta pela liberdade, desafiou a Igreja e os patrões quando exigiu o cumprimento da proposta de que ao final da construção da Igreja de São José do Queimado receberia a alforria - a proposta não foi cumprida, o que ocasionou uma rebelião iniciada na Serra e que culminou na prisão e morte de vários líderes, entre eles, "Chico Prego", que foi enforcado onde hoje está construída a Praça Ponto de Encontro, na sede do Município. Por esse exemplo de coragem e de luta, bem como pelo resgate da memória cultural e histórica do Município é que nosso projeto reconhece os escravos e especialmente "Chico Prego" como precursores da Cultura Serrana." O Projeto de Lei após aprovado pela Câmara Municipal transformou-se na Lei 2204, sancionada pelo então Prefeito Municipal, Antônio Sérgio Alves Vidigal, na data de 6 de Agosto de 1999. O objetivo da Lei é incentivar projetos visando o desenvolvimento cultural do Município. A Lei reformulada em 6 de agosto de 1999, e publicada no Diário Oficial em 13 de agosto o mesmo ano, recebeu o n°2204, com a denominação de Projeto Cultural Chico Prego que consiste na concessão de incentivo financeiro para realização de Projetos Culturais através de renuncia fiscal e participação financeira das pessoas jurídicas e físicas, contribuintes do Município que abrange duas categorias: 1 - Projetos Especiais de interesse direto do Município como os de conservação e restauração do patrimônio histórico, artístico e de preservação do patrimônio natural do Município, infra-estrutura cultural relativa a museus, bibliotecas, auditórios, teatros, centros culturais, salas de exposição, projeção e projetos artísticos que promovam o Município. 2 - Projetos de incentivos às artes, gerados por produtores culturais, sem necessariamente ter relação direta com a municipalidade como música, dança, teatro, circo, ópera, cinema, fotografia, vídeo, artes plásticas, gráficas e filatélicas, folclore, capoeira e artesanato, formação profissional e de platéia. FILME QUEIMADO O Filme "Queimado. A revolta dos escravos" relata a saga dos Negros Escravos do Distrito do Queimado, no Município da Serra, ES, que promoveram uma revolta em 1849. A Direção é do Cineasta, João Carlos Coutinho. (Foto). No dia 14 de março de 2004 foram realizadas filmagens na região do Sítio histórico da Igreja de São João Batista de Carapina. Segundo o Jornal A Tribuna, de 12 de Março de 2004, página 05, do Caderno de Cultura, AT 2, "para esta produção, a equipe técnica conta com equipamento de gravação digital, em formato MiniDV, com alta resolução de imagem e som. A finalização e montagem será em ilha de edição não linear. A idéia é a reprodução do material em película 35 mm, por meio de quimeoscopia." Segundo ainda o Jornal A Tribuna, João Carlos Coutinho pretende criar um vídeo histórico de caráter itinerante, para que novas ações sejam desenvolvidas no sentido de preservar o patrimônio existente. Ele também pretende criar um debate e novas pesquisas sobre o assunto. O vídeo será exibido em Universidades, Escolas, Praças e Cinemas de todo o Brasil. O roteiro é baseado na monografia "Insurreição do Queimado - Episódio da História da Província do Espírito Santo", de Afonso Cláudio Continua ainda o texto de A Tribuna, "o movimento marcou a vida de negros e brancos e sua repercussão pode ser vista mesmo nos dias de hoje, nas ruínas da Igreja de São José, erguida pelos escravos aos domingos e em noites de lua cheia." PRÉ-ESTRÉIA DO FILME "QUEIMADO, A REVOLTA DOS ESCRAVOS" - Aconteceu na quinta feira, dia 18 de Novembro de 2004, a pré-estréia do Filme, "Queimado, A Revolta dos Escravos", de João Carlos Coutinho, na Casa do Congo Mestre Antônio Rosa, na Serra Sede. A obra resgata a história da revolta dos escravos do distrito do Queimado. O Escritor, Poeta e Trovador Capixaba, Clério José Borges, (foto), tem uma pequena e modesta participação no Filme... Em determinado momento, há um diálogo entre Chico Prego, Elisiário e o Frei Italiano Gregório De Bene e logo depois, um dos Coronéis, interpretado por Jeremias Hilário dos Santos, (57 anos), grita: "Fecha as Portas!!!". Clério José Borges, na figura do Coronel Manoel Oliveira responde: "Não. Não feche... O que os negros vão pensar de nós?! Que somos covardes?!!! Se vocês fecharem as portas, eles vão criar muito mais coragem para nos enfrentarem!!!". Em determinado momento, há um diálogo entre Chico Prego, Elisiário e o Frei Italiano Gregório De Bene e logo depois, um do Coronéis, interpretado por Jeremias Hilário dos Santos, (57 anos), grita: "Fecha as Portas!!!". Frei Gregório Maria de Bene, interpretado pelo Ator, Edson Ferreira. A atriz capixaba, Verônica Gomes, (foto de roupa preta), interpretou Donana, a viúva Dona Ana Maria, viúva de José dos Santos Machado que faz a doação do terreno onde foi construída a Igreja. O Negro Chefe da Revolução junto com Chico Prego, Elisiário foi interpretado pelo ator Everaldo Nascimento. Chico Prego foi vivido pelo ator Ederaldo dos Santos Monteiro Júnior. O escravo Manoel que com sua Espingarda amedrontava acintosamente o Coronel Manoel Oliveira (Clério José Borges), foi vivido pelo ator João Vita. Pedidos de cópias do filme para exibição em reuniões, eventos e escolas por e-mail: joaovix@oi.com.br ou em contato com a Casa do Congo da Serra, pelo Telefone: (27) 3251-5870 / 3251 - 8157. COMEMORAÇÕES E HOMENAGENS 2006 - SESSÃO SOLENE DA ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA ESTADUAL - A Assembléia Legislativa comemorou no dia 30 de Março de 2006, os 157 anos de Aniversário da Insurreição do Queimado, homenageando pessoas que lutam contra a discriminação racial realizando uma Sessão solene presidida pelo Deputado Estadual Gilson Gomes. Foram agraciados com a Medalha Chico Prego as seguintes pessoas: Anderson Pinto Santos; Milton de Almeida e Silva; Jenésio Jacob Kuster, o Tute; Maria José da Penha Pimentel e Clério José Borges (foto). Também foram agraciados com Diplomas, Leta Jajumô; Luciana da Silva Barcellos; Marcos Marcolino; Teodorico Boa Morte e o poeta Trovador, Escritor Clério José Borges, dentre outros. Na mesa que presidiu os trabalhos da Sessão Solene, o Deputado proponente da Sessão, Gilson Gomes; O Deputado Cabo Elson; O Presidente do Museu Capixaba do Negro, Washington dos Anjos; O Presidente do Conselho Municipal de Cultura da Serra, Aurélio Carlos; A Vereadora e Presidente da Academia de Letras e Artes da Serra, ALEAS, Sandra Gomes, o Ex- Desembargador Antônio José Miguel Feu Rosa e o Presidente do Clube dos Poetas Trovadores Capixabas e Autor do Livro História da Serra, que apresenta um Capítulo especial sobre a Revolta do Queimado, Clério José Borges de Sant Anna. 2007 - CÂMARA MUNICIPAL DA SERRA - Sessão Solene homenageia Revolta do Queimado - DIA 19 DE MARÇO DE 2007 - O plenário da Câmara Municipal da Serra foi palco da homenagem aos 158 anos da Revolta do Queimado, na última segunda-feira, 19 de março. Na ocasião os vereadores entregaram a Comenda do Mérito da Revolta do Queimado a vários homenageados, destacando-se Clério José Borges, autor do Livro HISTÓRIA DA SERRA, homenageado pelo Vereador João de Deus Corrêa, o Tio João. Os Vereadores outorgaram ainda homenagens especiais a Genésio Jacob Kuster, o TUTE, (autor do “Monumento Chico Prego”); Mario Ferreira Mendes (Personalidade Cultural) e a Ramiro Machado (Associação das Bandas de Congo da Serra), dentre outras personalidades. CAMINHADA NOTURNA DOS ZUMBIS CONTEMPORÂNEOS São 16 km de Caminhada da Serra Sede ao Queimado No dia 17 para 18 de março de 2012, sábado para Domingo, foi realizada a Segunda Caminhada Noturna, em parceria com o Fórum Chico Prego, a Setur, a Academia de Letras e Artes da Serra e o Clube dos Poetas Trovadores Capixabas, CTC. A “Segunda Caminhada Noturna dos Zumbis Contemporâneos Rumo a Queimado”, organizada pelo Escritor e Poeta, Marco Antônio Pereira, o Marco Zumbi, na verdade refez os 16 km do trajeto Serra-Sede/Queimado. A programação começou no sábado (17 de março), às 20 horas, com roda de capoeira e grupos culturais na Praça da Igreja Matriz. (Poeta e Ator Ferreiro Djah; Aliança de Capoeira de Mestre Fernando Mococa; Grupo Afro Cultural Kisili de Jacaraípe e o Cantor Mizinho Dusamba). A caminhada começou à zero hora, saindo da Estátua de Chico Prego na Praça Almirante Tamandaré, passando pela Avenida Jones dos Santos Neves, Rua Rogério Norbim, Rua Pitanga, Rua Campinho, Rua do Sindicato, Rua da Prefeitura Nova, Av. Dom Pedro II e antiga Praça da Bandeira, atual Praça da Prefeitura Velha, onde está o Marco Zero da Serra. Na Rua Major Pissarra foi homenageada a Família Nunes, do Patriarca Antônio Francisco Nunes, recebendo uma lembrança dos participantes da Caminhada, as pessoas de Jomilda Nunes de Souza, Judith Nunes e Vagna Goreth Souza. Ajudando Marco Zumbi (Poeta Escritor Marco Antonio Pereira) estava o representante da ALEAS - Academia de Letras e Artes da Serra, Clério José Borges. O representante do Clube dos Poetas Trovadores Capixabas, o poeta Levi Basílio e o representante do Conselho Municipal de Cultura da Serra, Teodorico Boa Morte. (Ver vídeo acima). A caminhada prosseguiu passando pelo bairro Cascata e seguindo pela estrada asfaltada até o Sítio Restaurante da Helana. Por volta das 2 horas da madrugada deste domingo (18), foi feita uma parada, no Sítio Recanto Mestre Álvaro, da Helana e do Gil, onde os caminhantes se prepararam para a segunda etapa da caminhada, com relaxamento e alongamento. A chegada ao Sítio Histórico e Arqueológico de Queimado foi por volta das 8 horas. A partir das 8h30, aconteceu a tradicional celebração afro popular nas ruínas da Igreja de São José de Queimado, seguida de apresentação cultural de capoeira e banda de congo Konshaça, entre outras manifestações. O Sítio é Patrimônio Histórico Estadual e Municipal. Em 2012 comemoraram-se os 163 anos da Revolta dos Negros Escravos do Distrito do Queimado ocorrida no dia 19 de março de 1849, onde os heróis Chico Prego (Francisco de São José) e João da Viúva Monteiro foram condenados por serem os líderes da Revolta e foram enforcados. A primeira Caminhada dos Zumbis Contemporâneos, da Estátua de Chico Prego na Serra Sede até as ruínas da Igreja de São José do Queimado foi realizada na noite de 18 para 19 de março daquele ano, com a organização de Marco Zumbi e apoio do Escritor e historiador Clério José Borges, autor do Livro História da Serra e do Poeta e Acadêmico Teodorico Boa Morte. Informações sobre a Caminhada dos próximos anos com Marco Antonio Pereira, o Marco Zumbi, Telefone: 27 - 32 61 06 82 e por e-mail: marcozumbi@hotmail.com Fim do Texto do Escritor Clério José Borges, autor do Livro HISTÓRIA DA SERRA. ABOLIÇÃO DA ESCRAVATURA No Brasil, a escravidão teve início com a produção de açúcar na primeira metade do século XVI. Os portugueses traziam os negros africanos de suas colônias na África para utilizar como mão-de-obra escrava nos engenhos de açúcar do Nordeste. Os comerciantes de escravos portugueses vendiam os africanos como se fossem mercadorias aqui no Brasil. Os mais saudáveis chegavam a valer o dobro daqueles mais fracos ou velhos. O transporte era feito da África para o Brasil nos porões do navios negreiros. Amontoados, em condições desumanas, muitos morriam antes de chegar ao Brasil, sendo que os corpos eram lançados ao mar. Nas fazendas de açúcar ou nas minas de ouro (a partir do século XVIII), os escravos eram tratados da pior forma possível. Trabalhavam muito (de sol a sol), recebendo apenas trapos de roupa e uma alimentação de péssima qualidade. Passavam as noites nas senzalas (galpões escuros, úmidos e com pouca higiene) acorrentados para evitar fugas. Eram constantemente castigados fisicamente, sendo que o açoite era a punição mais comum no Brasil Colônia. Eram proibidos de praticar sua religião de origem africana ou de realizar suas festas e rituais africanos. Tinham que seguir a religião católica, imposta pelos senhores de engenho, adotar a língua portuguesa na comunicação. Mesmo com todas as imposições e restrições, não deixaram a cultura africana se apagar. Escondidos, realizavam seus rituais, praticavam suas festas, mantiveram suas representações artísticas e até desenvolveram uma forma de luta: a capoeira. As mulheres negras também sofreram muito com a escravidão, embora os senhores de engenho utilizassem esta mão-de-obra, principalmente, para trabalhos domésticos. Cozinheiras, arrumadeiras e até mesmo amas de leite foram comuns naqueles tempos da colônia. No Século do Ouro (XVIII) alguns escravos conseguiam comprar sua liberdade após adquirirem a carta de alforria. Juntando alguns "trocados" durante toda a vida, conseguiam tornarem-se livres. Porém, as poucas oportunidades e o preconceito da sociedade acabavam fechando as portas para estas pessoas. O negro também reagiu à escravidão, buscando uma vida digna. Foram comuns as revoltas nas fazendas em que grupos de escravos fugiam, formando nas florestas os famosos quilombos. Estes eram comunidades bem organizadas, onde os integrantes viviam em liberdade, através de uma organização comunitária aos moldes do que existia na África. Nos quilombos, podiam praticar sua cultura, falar sua língua e exercer seus rituais religiosos. O mais famoso foi o Quilombo de Palmares, comandado por Zumbi. A partir da metade do século XIX a escravidão no Brasil passou a ser contestada pela Inglaterra. Interessada em ampliar seu mercado consumidor no Brasil e no mundo, o Parlamento Inglês aprovou a Lei Bill Aberdeen (1845), que proibia o tráfico de escravos, dando o poder aos ingleses de abordarem e aprisionarem navios de países que faziam esta prática. Em 1850, o Brasil cedeu às pressões inglesas e aprovou a Lei Eusébio de Queiróz que acabou com o tráfico negreiro. Em 28 de setembro de 1871 era aprovada a Lei do Ventre Livre que dava liberdade aos filhos de escravos nascidos a partir daquela data. E no ano de 1885 era promulgada a Lei dos Sexagenários que garantia liberdade aos escravos com mais de 60 anos de idade. Somente no final do século XIX é que a escravidão foi mundialmente proibida. No Brasil, sua abolição se deu em 13 de maio de 1888 com a promulgação da Lei Áurea, feita pela Princesa Isabel. Isabel Cristina Leopoldina Augusta Micaela Gabriela Gonzaga de Bragança, a Princesa Isabel, nasceu no palácio de São Cristóvão, na cidade do Rio de Janeiro no ano de 1846. Tornou-se a herdeira do trono brasileiro, após a morte prematura do irmão mais velho. Filha de Dom Pedro II passou para a história do Brasil como a responsável pela assinatura da Lei Áurea, que aboliu a escravidão no Brasil, em 13 de maio de 1888. Princesa Isabel era casada com um nobre francês, o Conde D’Eu. Ela assumiu a regência do trono do Brasil em três situações em que o imperador estava viajando. Foi responsável também pela assinatura da Lei do Ventre Livre (1871), que estabeleceu liberdade aos filhos dos escravos a partir daquela data. Com o enfraquecimento da monarquia e o estado de saúde complicado do imperador, começou a receber muitas críticas e ataques de oposicionistas republicanos, que temiam a instauração de um terceiro reinado. Por ser francês, o marido da princesa também foi muito atacado neste momento. Após a queda da monarquia e a Proclamação da República (15 de novembro de 1889), foi morar, com a família real, na Europa. Morreu na França no ano de 1921. MONITORANDO A LEITURA REFLEXÃO Elisiário, negro inteligente, pois recebera educação esmerada de seu senhor, foi com Chico Prego, um dos líderes da Insurreição ocorrida no Distrito de Queimado na Serra. É cognominado o Zumbi da Serra. PESQUISE: O que significa a palavra Insurreição? Quem foi Zumbi dos Palmares? ATIVIDADES 1. Quais os três principais líderes da Insurreição (Revolta) do Queimado? 2. Quantos dias durou a Insurreição do Queimado? Que dia começou? Que dia terminou? 3. Quantos escravos foram absolvidos e quantos foram condenados no Julgamento? 4. Descreva com suas palavras como foi a morte de Chico Prego? O que Ananias teve que fazer para Chico Prego morrer? 5. Cite os nomes dos escravos que foram enforcados por causa da Insurreição do Queimado? 6. Em que data foram iniciadas as obras de construção da Igreja de São José do Queimado? #SerraES #EuamoaSerra #ACLAPTCTC #RevoltadosNegros #RevoltadoQueimado #Queimado #QueimadoSerraES #RuínasdoQueimado #Cultura #Folclore #Poetas #Trovadores #Trovas #Negritude #Liberdade

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